sexta-feira, 3 de setembro de 2021

 

OLHAR OCULTO

Os seus óculos escuros, não me permitem

ver a beleza de seus olhos,

nem tampouco a magnitude de suas ires.

Preciso ver de perto a cor desses seus olhos.

Necessito de sua luz para me direcionar o caminho.

 

Uma mulher bonita por natureza,

não pode esconder seus lindos olhos,

ou ocultar seu doce olhar.

Antes é preciso mostra lós ao mundo.

 

É preciso deixar que eles encontrem também,

outros, que assim como os meus,

buscam aflitos por um olhar restaurador.

 

Um olhar que seja capaz de devolver-me a paz

e acreditar novamente que ainda

terei uma oportunidade de encontrar

a felicidade tão almejada em minha vida.

 https://www.recantodasletras.com.br/autores/tadeulobo

Estação de Cercado (MG), 14 de julho de 2021.

 

 

A FERRUGEM DO TEMPO

 

Eu sou o lobo,

que uiva dentro da noite.

Tudo está muito escuro e frio.

Tão frio, que posso ouvir o estalar

de minhas articulações.

 

Se tivesse um pouquinho de óleo,

eu poderia unta-las.

Acredito que a ferrugem do tempo,

está me envelhecendo aos poucos.

 

Mas, antes que o trem da vida me leve,

peço lhe um ultimo favor.

Pegue o fósforo e esquenta uma água agora.

Faça-me um café bem quente,

que é para alimentar a este lobo solitário,

que uiva faminto noite a fora.

 

O trem da vida não para,

nem tampouco retarda o seu destino.

Ele segue em frente, em frente, em frente...

O maquinista assim como eu, ouve na corrida,

os estalidos da maquinaria sem manutenção,

clamando por um pouquinho de óleo.

 

Mas, o que eu queria mesmo,

era que você me acompanhasse,

e juntos pelos mesmos trilhos seguíssemos,

em um movimento contínuo,

onde juntos envelheceremos noites dentro,

sem nos preocuparmos com a ferrugem do tempo.

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Quartel Geral (MG), 28 de julho de 2021.

 

 

POMPAS FÚNEBRES

 

Eu vi o morto deitado

de pés atados, de mãos cruzadas,

sonhando que estava acordado.

 

Vi um homem na rua

comprando juras de amor

debaixo da mesma lua,

que lhe assistia com pudor.

 

Eu vi quando da mulher, sorrindo,

de dor ou contentamento (?)

as pernas foram-se abrindo

para mais um nascimento.

 

Vi do alto do Corcovado

dois braços bem abertos

abraçando o povoado

que vivia deserdado.

 

Eu vi muita gente mendigando:

comida, moradia, calçado (...).

Aos ratos suntuosos que iam passando,

assustados por estar sendo cassados.

 

Vi o fogo que o bárbaro ateou,

querendo fazer cinzas, o indigenismo

que, tão bem, como filho o adotou,

sem preconceitos ou egoísmo.

 

Eu vi muita gente chorando

de dor ou de contentamento (?)

enquanto o corpo ia carregando

durante o passamento.

 

Vi um homem, um morto.

A lua que assistia ao aborto.

O sorriso da menina-flor

ser vendido por tão baixo valor.

 

Vi quando os braços se cruzaram

e as lágrimas se desfolharam.

Vi o povoado em guerras

destruir a própria terra.

 

Vi muita gente sofrendo

e a tudo na vida querendo:

educação, saúde, trabalho, lazer(...),

enquanto o corpo ia carregando

sem nenhum prazer.

 

Vi os ratos serem absolvidos

com o dinheiro dos povos sofridos.

Vi o fogo destruir matas

e um índio ser queimado vivo.

Vi as cinzas dos corpos caídos

e ainda como uma trágica lembrança.

Vi morrerem inúmeras crianças

com o perfume atômico da rosa,

da rosa solitária de Hiroshima.

 

Eu vi muita gente chorando

umas de dor, outras de contentamento (?),

enquanto o corpo ia carregando.

E vi quando a porta se abriu,

mostrando o morto ajoelhado,

de pés descalços e mãos levantadas

a implorar sua salvação,

sonhando que estava acordado

dentro de um escuro caixão.

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Nova Serrana (MG), 23 de setembro de 2007.