quarta-feira, 3 de maio de 2023

 

A FLOR E A ESTRELA

Uma plantinha sem definição,

sonolenta se ergue do chão.

Enquanto que do espaço sideral,

é observada por uma luz celestial.


O tempo passa como um passa tempo.

A plantinha cresce ao sopro dos ventos.

Agora um pouco maior, porem triste,

cabisbaixa observa a sua volta o que existe.


Seu corpo está mudado, ficou diferente.

A transmutação deu lhe uma cor quente,

em uma cabeça arredondada como flor,

só não lhe falou nada sobre o amor.


Apesar de sua diferença e grande beleza,

vivia cabisbaixa, dava dó a sua tristeza.

Até que em uma linda manhã de primavera,

quando parecia que nada havia a sua espera,

ouviu uma voz a lhe chamar docemente.


Olhou em toda à sua volta cuidadosamente,

mas não conseguia descobrir quem a chamava.

Até que por fim, olhando para o manto celestial,

lá estava ela, tão linda e como sempre brilhava,

a sorrir descontraidamente para a flor que a procurava.


Era uma grande estrela que nascera para brilhar.

Para doar tudo que havia de bom, até mesmo seu calor.

Uma estrela que veio para dar vida e a tudo iluminar,

aquecendo corpos doentios e sem mais nenhum amor.


A partir de então a pobre planta se apaixonou.

Não queria olhar para outro lado, senão para cima.

Pois aquela grande e esplêndida estrela a conquistou,

fazendo nascer entre ambas um bom clima.


E por onde a estrela seguisse seu caminho,

cá da terra, a plantinha girando seu corpo a seguia.

Pois encontrara uma forma de roubar lhe seu carinho,

enquanto seu corpo aquecia durante todo o dia. 


E ao anoitecer, já cansada de tanto em voltas girar,

voltava a pobre planta, cabisbaixa a sonhar,

com um novo dia a cada amanhecer,

pois somente assim ela voltaria a renascer.


E assim vivia na terra todos os dias, a flor, 

sonhando esperançosa, em sua vida abraçar,

aquela estrela tão bela e lhe entregar seu amor,

pois a distância não é obstáculo quando se quer amar.


Mas o destino cruel e traiçoeiro não lhe permitia,

nada mais, senão olhar da terra sua estrela guia.

E de tanto tentar em vão e girando qual uma louca

em prantos, só se ouvia a implorar, sua voz rouca.


E assim tristemente a flor foi se definhando

e novamente de cabeça baixa ficou chorando.

Suas lágrimas em preto e branco caíram ao chão,

e este com pena, as recolheram dentro de seu coração.


Tempos depois novas plantinhas foram surgindo,

de cada uma daquelas lágrimas fecundas, porem frias.

Foram tantas e tão lindas, que muitos ao vê-las, sorrindo,

as colhem, doando ás uns aos outros, demonstrando sua alegria. 

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Estação do Cercado (MG), 01 de janeiro de 2022.


sexta-feira, 3 de setembro de 2021

 

OLHAR OCULTO

Os seus óculos escuros, não me permitem

ver a beleza de seus olhos,

nem tampouco a magnitude de suas ires.

Preciso ver de perto a cor desses seus olhos.

Necessito de sua luz para me direcionar o caminho.

 

Uma mulher bonita por natureza,

não pode esconder seus lindos olhos,

ou ocultar seu doce olhar.

Antes é preciso mostra lós ao mundo.

 

É preciso deixar que eles encontrem também,

outros, que assim como os meus,

buscam aflitos por um olhar restaurador.

 

Um olhar que seja capaz de devolver-me a paz

e acreditar novamente que ainda

terei uma oportunidade de encontrar

a felicidade tão almejada em minha vida.

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Estação de Cercado (MG), 14 de julho de 2021.

 

 

A FERRUGEM DO TEMPO

 

Eu sou o lobo,

que uiva dentro da noite.

Tudo está muito escuro e frio.

Tão frio, que posso ouvir o estalar

de minhas articulações.

 

Se tivesse um pouquinho de óleo,

eu poderia unta-las.

Acredito que a ferrugem do tempo,

está me envelhecendo aos poucos.

 

Mas, antes que o trem da vida me leve,

peço lhe um ultimo favor.

Pegue o fósforo e esquenta uma água agora.

Faça-me um café bem quente,

que é para alimentar a este lobo solitário,

que uiva faminto noite a fora.

 

O trem da vida não para,

nem tampouco retarda o seu destino.

Ele segue em frente, em frente, em frente...

O maquinista assim como eu, ouve na corrida,

os estalidos da maquinaria sem manutenção,

clamando por um pouquinho de óleo.

 

Mas, o que eu queria mesmo,

era que você me acompanhasse,

e juntos pelos mesmos trilhos seguíssemos,

em um movimento contínuo,

onde juntos envelheceremos noites dentro,

sem nos preocuparmos com a ferrugem do tempo.

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Quartel Geral (MG), 28 de julho de 2021.

 

 

POMPAS FÚNEBRES

 

Eu vi o morto deitado

de pés atados, de mãos cruzadas,

sonhando que estava acordado.

 

Vi um homem na rua

comprando juras de amor

debaixo da mesma lua,

que lhe assistia com pudor.

 

Eu vi quando da mulher, sorrindo,

de dor ou contentamento (?)

as pernas foram-se abrindo

para mais um nascimento.

 

Vi do alto do Corcovado

dois braços bem abertos

abraçando o povoado

que vivia deserdado.

 

Eu vi muita gente mendigando:

comida, moradia, calçado (...).

Aos ratos suntuosos que iam passando,

assustados por estar sendo cassados.

 

Vi o fogo que o bárbaro ateou,

querendo fazer cinzas, o indigenismo

que, tão bem, como filho o adotou,

sem preconceitos ou egoísmo.

 

Eu vi muita gente chorando

de dor ou de contentamento (?)

enquanto o corpo ia carregando

durante o passamento.

 

Vi um homem, um morto.

A lua que assistia ao aborto.

O sorriso da menina-flor

ser vendido por tão baixo valor.

 

Vi quando os braços se cruzaram

e as lágrimas se desfolharam.

Vi o povoado em guerras

destruir a própria terra.

 

Vi muita gente sofrendo

e a tudo na vida querendo:

educação, saúde, trabalho, lazer(...),

enquanto o corpo ia carregando

sem nenhum prazer.

 

Vi os ratos serem absolvidos

com o dinheiro dos povos sofridos.

Vi o fogo destruir matas

e um índio ser queimado vivo.

Vi as cinzas dos corpos caídos

e ainda como uma trágica lembrança.

Vi morrerem inúmeras crianças

com o perfume atômico da rosa,

da rosa solitária de Hiroshima.

 

Eu vi muita gente chorando

umas de dor, outras de contentamento (?),

enquanto o corpo ia carregando.

E vi quando a porta se abriu,

mostrando o morto ajoelhado,

de pés descalços e mãos levantadas

a implorar sua salvação,

sonhando que estava acordado

dentro de um escuro caixão.

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Nova Serrana (MG), 23 de setembro de 2007.

 

 

 

domingo, 29 de janeiro de 2012

AUSCULTAÇÃO

Após sondar nossas almas
tão distantes e tão desviadas,
passei a imaginar uma nova cena
onde me encontrava muito doente
no leito de um hospital.
Assim na minha fantasia
criei em você uma enfermeira
pra cuidar unicamente de mim.
E com seu estetoscópio
você por inúmeras vezes
haveria de auscultar
tudo que meu coração
sempre desejou lhe dizer
enquanto meus lábios indecisos
nunca revelaram a você.
E sempre que você auscultasse
meus batimentos cardíacos,
você certamente perceberia
os apelos do meu coração
a implorar pelo seu amor,
enquanto diria a seus ouvidos
que necessito imensamente de você
e que não viverei por muito tempo
ausente de seu lindo ser
que é tudo em minha vida.
Tadeu Lobo
Nova Serrana (MG), 25 de novembro de 2006.

domingo, 24 de abril de 2011

Trecho de Vinícius de Moraes



"Eu te peço perdão por te amar de repente



Embora o meu amor



seja uma velha canção nos teus ouvidos... "